Notícias do CETT/UFG
A emancipação e empoderamento feminino através da qualificação profissional
Autoras:
Drª. Alethéia Ferreira da Cruz
Drª. Juliana Ramalho Barros
Não se pode negar que nós, mulheres, já tivemos conquistas bastante relevantes no que diz respeito à igualdade de direitos em relação aos homens. Com muita luta, deixamos de ocupar apenas postos que exigem pouca ou nenhuma qualificação e funções relacionadas somente a cuidados de outras pessoas e trabalhos domésticos. Aos poucos estamos sendo reconhecidas pelo que fazemos e não pelo que biologicamente podemos ter. Com muita resistência, conquistamos o direito de votar, alcançamos lugares nas universidades, na política, nos movimentos sociais, na ciência, nos esportes e seguimos em busca de descontruir as desigualdades da sociedade patriarcal que nos afeta fortemente em relação à nossa situação de vida e trabalho.
Apesar disso, no Brasil, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 7 horas. Diariamente, sob os alicerces do patriarcado e do preconceito social e racial, somos vítimas das mais diversas formas de perdas, danos e violências, em especial àquelas vivenciadas nas relações domésticas. Ainda somos sujeitas ao desemprego, aos baixos salários, à precarização do trabalho e subordinadas à pedagogias culturais e afetivas de uma sociedade sexista e heterocentrada.
Trata-se de uma situação extremamente complexa e que guarda uma relação de causa e consequência com o percentual de mulheres na política, na educação, em cargos ministeriais, em cargos gerenciais e de poder. Em pleno século XXI, somos obrigadas a conviver com as diferenças de salários e a menor velocidade de progressão nas carreiras em relação aos homens, exclusivamente por sermos mulheres.
Contudo, é preciso ir mais além e pensar nas mulheres em situação de vulnerabilidade socioeconômica, cujos direitos são constantemente violados em proporções muito maiores do que os das demais. Mulheres negras, por exemplo, sofrem tripla discriminação: social, racial e de gênero. Segundo dados do IBGE, em 2019 a taxa de desocupação era de 14,1% para as mulheres e 9,6% para os homens. Em compensação, as mulheres lideravam o ranking do trabalho informal (40,3% contra 37,8% dos homens), com maior participação de trabalhadoras pretas ou pardas, que, em sua grande maioria, se inserem mais cedo no mercado de trabalho do que as brancas. Ademais, mulheres pretas ocupam funções cujas condições de trabalho são mais precárias e com menor remuneração que mulheres brancas.
A construção de um novo Brasil que vislumbra uma sociedade mais livre, justa e igualitária é inconcebível sem a intensa participação das mulheres, numa perspectiva emancipacionista e antirracista, pavimentada por políticas públicas integradas para o enfrentamento da violência contra mulher, a valorização do trabalho da mulher, o estímulo ao empreendedorismo e à capacitação profissional.
Para superar as muitas desigualdades que cerceiam nossos direitos, é preciso pressionarmos por políticas que proporcionem às mulheres, em especial àquelas em situação de vulnerabilidade, a oportunidade de instituir melhores condições de vida para si mesmas e suas famílias. Tais políticas precisam, sem dúvida, estar voltadas para o aumento da escolaridade e a geração de renda. A melhoria da qualidade de vida dessas mulheres requer, ainda, a compreensão de que não precisamos ocupar apenas postos que nos foram socialmente impostos ao longo dos tempos e que somos plenamente capazes de desempenhar os mais diferentes tipos de funções no mercado de trabalho.
Desta forma, a melhoria da renda das mulheres passa, necessariamente, pela qualificação, pela requalificação e pelo aumento do nível de escolaridade. Historicamente, a força de trabalho feminina é alijada de muitas funções e, nesse sentido, a educação profissional tecnológica tem o potencial de resgatar as mulheres socialmente excluídas, proporcionar-lhes o aprendizado de uma profissão que resulte em sua saída do mercado informal, o aumento de sua renda e sua mobilidade social. Além disso, o ensino profissional, se bem conduzido, pode abrir portas para a formação da qual essas mulheres foram preteridas, proporcionando, ainda, uma formação cidadã ampla, que possibilite sua emancipação, sua inclusão, sua atuação ativa na sociedade e a transformação social dos espaços que elas pertencem.
A emancipação e o empoderamento femininos, definitivamente, só podem ser alcançados por meio de uma coletividade, de políticas públicas bem articuladas, de redes de apoio, de conexões que envolvam escola, sociedade e mercado de trabalho. A educação integra, conecta e transforma. Urge fundamental e necessário a criação de redes de suporte para garantir o acesso e a permanência das mulheres pobres e periféricas à educação.
É preciso prover locais para que essas mulheres deixem seus filhos, garantir segurança, transporte e renda mínima. O que desejamos é que haja a real transferência de renda, mobilidade social e transformação social das comunidades às quais elas pertencem, para que elas deixem de ser socialmente invisíveis e excluídas. Neste dia internacional das mulheres, somos gratas pelas homenagens, mas o que queremos mesmo são ações. Ações que sejam vetores de desenvolvimento econômico, social e humano que empoderem mulheres e permitam que elas sejam e estejam realmente onde desejam estar.