Educação Intercultural e Valorização da Diversidade na Educação

Por Ana Clara A. Guimarães, mestre em psicologia e William de Deus Nascimento, psicólogo e analista de RH

O tema “diversidade” não é novo, mas também se torna cada vez mais atual, com esforços direcionados para a promoção de ações que buscam novas formas de lidar com tudo que é visto como diferente. Essas iniciativas visam corrigir padrões de comportamentos que, por muito tempo, foram permeados por preconceitos.

Mas para além de uma sociedade que visa realizar essas correções, como esse passo é dado no local onde se dá a formação de aspectos fundamentais dos indivíduos que compõem a sociedade?

A educação intercultural emerge como um elemento essencial para construir uma sociedade mais inclusiva, justa e diversa. A educação intercultural é então uma perspectiva crítica de ensino que leva em conta as diferenças e pluralismos de grupos socioculturais distintos, visando promover e valorizar a diversidade em contextos multiculturais. Não se trata então de uma metodologia por si só, mas sim de uma perspectiva.

Essa perspectiva propõe atender às necessidades afetivas, cognitivas, sociais e culturais de todos os indivíduos, possibilitando a promoção de valores como igualdade, respeito pelo outro, respeito aos direitos humanos e aceitação. Dentre tantos pilares e características que dão forma a essa perspectiva de educação, uma delas é a valorização da diversidade dentro da sala de aula.

As escolas possuem um papel crucial de criar um ambiente acolhedor, em que cada aluno se sinta representado e reconhecido com sua identidade. E ao reconhecer e valorizar as múltiplas identidades que estão presentes em uma sociedade, a educação intercultural contribui para a desconstrução de preconceitos e estereótipos que muitas vezes possuímos como um viés inconsciente.

Afinal, não somos imunes a vieses e preconceitos, por mais que queiramos acreditar que somos. Reconhecê-los é importante porque tais preconceitos causam impacto em todos os aspectos de nossas vidas, inclusive na maneira como aprendemos, como resolvemos problemas e como tratamos as pessoas. Eles afetam a maneira como reagimos a ameaças, como lidamos com emoções próprias e alheias, causam impacto na maneira como as pessoas interagem, afetam os julgamentos que fazemos sobre os outros. Quando esses vieses permanecem no inconsciente, o preconceito é materializado em ação e em hábitos perigosos.

Isso porque preconceitos deixam sua marca em praticamente todos os aspectos da vida. Eles também afetam a maneira como os professores educam os alunos e o modo como os pais tratam seus filhos. Praticamente, todas as decisões importantes que tomamos na vida são influenciadas por esses preconceitos, e quanto mais eles permanecem inconscientes, menor a probabilidade de tomarmos as melhores decisões possíveis.

Não é à toa que estabelecemos leis que limitam o comportamento tendencioso das pessoas e as responsabilizam por comportamentos discriminatórios. Instituímos diretrizes de diversidade e inclusão e programas de treinamento para milhões de pessoas em escolas, grandes corporações, pequenas empresas, agências governamentais, instituições sem fins lucrativos e militares para nos ensinar a ser mais "tolerantes". Escrevemos milhares de livros, produzimos inúmeros filmes, desenvolvemos movimentos sociais, marchas de protesto organizadas, tudo isso para tentar entender o problema e tentar consertá-lo.

Assim, uma vez que tenhamos noção de vieses e preconceitos, podemos notar o impacto real que eles causam nas pessoas a nossa volta e também trabalhar formas de combater esses preconceitos. Enquanto gestor, e estando na linha de frente da formação de novos indivíduos, é possível estabelecer algumas ações cabíveis a serem realizadas, com o objetivo de promover condições para uma transformação cultural que sustente essa mudança de perspectiva, como: feiras culturais, dinâmicas de integração e rodas de conversa.

Além dessas práticas, é fundamental a criação de estratégias para a aplicação da educação intercultural partindo da gestão, como a determinação de um currículo inclusivo; a sensibilização e treinamento dos profissionais; eventos e celebrações que valorizem a diversidade; parcerias com a comunidade da qual a escola faz parte; a inclusão de uma literatura diversificada; a criação de um ambiente acolhedor; o apoio a grupos estudantis; políticas institucionais que consideram a diversidade dos participantes, entre outras estratégias.

Uma vez que é por meio da escola e da educação que, em partes, se forma o cidadão, a educação intercultural, por meio de estratégias como essas, fortalece o sentimento de pertencimento e de identidade dos estudantes, pois gera neles a valorização e representação na sala de aula. É nesse contexto que o educador precisa buscar sustentação de suas práticas em pilares como a diversidade, a inclusão e a justiça, sempre com um direcionamento para a ação transformadora neste contexto.

Mais do que nunca, as pessoas percebem que criar uma sociedade inclusiva e culturalmente competente faz sentido. 

 

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